quarta-feira, 2 de outubro de 2019

UMA SÉRIE DA NETFLIX PARA QUEM DESEJA SER CANDIDATO A VEREADOR OU PREFEITO EM 2020


Ben Platt interpretando Peyton Hobart, na série The Politician da Netflix. Um jovem ambicioso vive o complexo de édipo com a mãe adotiva, numa família bilionária. Sua meta é ser presidente dos EUA, não importando os meios, que sejam justificados por essa grande finalidade. Já tinha preparado tudo até os principais assessores e a futura primeira dama. Mas antes vai ser expulso de casa e viver de música em Nova Iorque conhecendo o submundo do álcool, viajar de taxi e morar numa republica experimentando a vida pobre nova-iorquina. Até que reacende o sonho de ser presidente rejuntando todas as peças do quebra cabeça simbólico, psicanalítico lacaniano.
Por ser a primeira série de Ryan Murphy na NetflixThe Politician, vai ter que mostrar a essência de sua obra. Como não poderia deixar de ser, seguindo uma tradição da Netflix o personagem principal vive uma fantasia gay no plano do imaginário, nomeada numa cadeia simbólica, onde os significantes fluem qual cachoeira num diálogo insano com o amigo imaginário que havia se suicidado. Como diria Lacan, a estruturação dos significados nessa cadeia simbólica, fica por conta da nossa imaginação, comprovada na fala do protagonista: “o real é a verdade que você acredita”. A morte do adversário e quase namorado impõe outra situação na disputa com esse bissexual pelo Grêmio Estudantil, quando a namorada do falecido assume a chapa adversária. Peyton influenciado por sua namorada e uma amiga acaba conspirando com a lésbica que era vice na outra chapa, após sua titular fingir um sequestro para viver uma temporada de muito sexo em Nova Iorque, com um cara pobre e marginalizado.
Showrunner mais poderoso (e prolífico) do momento, Murphy tem em seu currículo séries bem sucedidas e díspares quanto GleeAmerican Horror StoryPoseAmerican Crime StoryFeud: Bette and Joan e Nip/TuckThe Politician é uma mistura de tudo isso. “Ryan queria que essa série mostrasse ao público a essência de sua obra”, diz o protagonista da trama, Ben Platt, em passagem por São Paulo para promover The Politician.
Várias realidades paralelas desnudam os fragmentos do real em pleno contraste entre riqueza extrema e pobreza absoluta, mostrando as mobilidades possíveis de ambas no plano do Sonho Americano de poder e prosperidade capitalista. A mãe adotiva rica despreza os filhos gêmeos do marido bilionário para se dedicar quase que exclusivamente ao filho adotivo, que era mais próximo de seu passado de moça pobre, que se casou com homem rico por interesse. Embora tivesse acesso à fortuna de sua família adotiva, Peyton Hobart queria chegar à Universidade de Harvard por méritos próprios sem se valer de sua fortuna. Queria ser presidente dos EUA sem macular sua imagem com práticas que pudessem ser reveladas no futuro destruindo seus sonhos. Enfim, essa séria parece mais um curso de marketing político para iniciantes. Vale a pena ser vista para quem deseja ser candidato a prefeito ou vereador no ano que vem.