Ben Platt
interpretando Peyton Hobart, na série The Politician da Netflix. Um jovem
ambicioso vive o complexo de édipo com a mãe adotiva, numa família bilionária.
Sua meta é ser presidente dos EUA, não importando os meios, que sejam
justificados por essa grande finalidade. Já tinha preparado tudo até os
principais assessores e a futura primeira dama. Mas antes vai ser expulso de
casa e viver de música em Nova Iorque conhecendo o submundo do álcool, viajar
de taxi e morar numa republica experimentando a vida pobre nova-iorquina. Até
que reacende o sonho de ser presidente rejuntando todas as peças do quebra
cabeça simbólico, psicanalítico lacaniano.
Por
ser a primeira série de Ryan Murphy na Netflix, The Politician,
vai ter que mostrar a essência de sua obra. Como não poderia deixar de ser,
seguindo uma tradição da Netflix o personagem principal vive uma fantasia gay
no plano do imaginário, nomeada numa cadeia simbólica, onde os significantes
fluem qual cachoeira num diálogo insano com o amigo imaginário que havia se
suicidado. Como diria Lacan, a estruturação dos significados nessa cadeia
simbólica, fica por conta da nossa imaginação, comprovada na fala do protagonista:
“o real é a verdade que você acredita”. A morte do adversário e quase namorado
impõe outra situação na disputa com esse bissexual pelo Grêmio Estudantil, quando
a namorada do falecido assume a chapa adversária. Peyton influenciado por sua
namorada e uma amiga acaba conspirando com a lésbica que era vice na outra
chapa, após sua titular fingir um sequestro para viver uma temporada de muito
sexo em Nova Iorque, com um cara pobre e marginalizado.
Showrunner mais
poderoso (e prolífico) do momento, Murphy tem em seu currículo séries bem
sucedidas e díspares quanto Glee, American Horror Story, Pose, American
Crime Story, Feud: Bette and Joan e Nip/Tuck. The
Politician é uma mistura de tudo isso. “Ryan queria que essa série
mostrasse ao público a essência de sua obra”, diz o protagonista da
trama, Ben Platt, em passagem por São Paulo para promover The
Politician.
Várias
realidades paralelas desnudam os fragmentos do real em pleno contraste entre
riqueza extrema e pobreza absoluta, mostrando as mobilidades possíveis de ambas
no plano do Sonho Americano de poder e prosperidade capitalista. A mãe adotiva
rica despreza os filhos gêmeos do marido bilionário para se dedicar quase que
exclusivamente ao filho adotivo, que era mais próximo de seu passado de moça
pobre, que se casou com homem rico por interesse. Embora tivesse acesso à
fortuna de sua família adotiva, Peyton Hobart queria chegar à Universidade de Harvard
por méritos próprios sem se valer de sua fortuna. Queria ser presidente dos EUA
sem macular sua imagem com práticas que pudessem ser reveladas no futuro
destruindo seus sonhos. Enfim, essa séria parece mais um curso de marketing
político para iniciantes. Vale a pena ser vista para quem deseja ser candidato
a prefeito ou vereador no ano que vem.